Nesta segunda parte da entrevista ao Luís Pedras, a conversa andou sobre o seu SLB, o desporto em Elvas, em particular o futebol, o nosso artesanato, o estado actual em que se encontra politicamente a nossa cidade, e qual o futuro que os elvenses podemos esperar.
A palavra é do líder local do Bloco de Esquerda.
TP – Sei que gostas de desporto, em especial o futebol. É desta que vais comemorar o título nacional?
LP - Não sei Scottish, ainda agora começou a 2ª volta e como sabes esta é uma prova essencialmente de regularidade. É um facto que o meu SLB só tem uma derrota com o Braga e têm ambos os mesmos pontos. O teu SCP se perder na próxima jornada poderá ficar definitivamente despachado a 15 pontos, e o FCP está a 6 e cada vez a jogar pior. Só por sorte não saiu da Taça, enquanto o meu SLB dá gosto ver jogar. O melhor ataque da Europa com 44 golos é obra, portanto é melhor encomendar as faixas e pensar fazermos a festa do GLORIOSO na rotunda.
TP – Falando de futebol. Acompanhas “O Elvas”? Como vês actualmente o clube?
LP - Sou adepto d'"O Elvas", e todos os clubes têm problemas. Nós tivemos já num bom patamar mas subiu-nos o rei à barriga e derrapámos por aí fora até chegar a esta humilhante e frustrante posição (distrital). A incongruência e falta de apoio das sucessivas direcções ditou o actual rumo do clube, no entanto não se pode deitar a toalha ao chão, há que levantar a cabeça e apoiarmos o clube. A união faz a força e Elvas precisa de um Clube Alentejano de Desportos forte e competitivo. Penso que se está a fazer um excelente trabalho nos escalões de formação e se deve apoiar com mais determinação e discernimento, pois de pequenino é que se torce o pepino, apesar de já ninguém trabalhar por amor à camisola, mas esta camisola tem de ser bem suada e respeitada por todos os atletas e dirigentes.
TP – O que achas que se deveria fazer para o clube voltar a marcar presença num patamar mais importante a nível nacional?
LP - Talvez o modelo já adoptado por outros clubes para terem alguma injecção de capital com a criação das S.A., ficando sempre o clube com 51% dos activos. Este é um problema demasiado grande. Penso que "O Elvas" nos próximos tempos (10 anos) não tem capacidade para enfrentar esse tipo de desafios, e talvez a melhor opção seja de facto uma opção similar aquela que adoptou o Campomaiorense à bastante tempo, a formação, pois temos que fazer a sementeira à nossa medida.
TP – A oferta desportiva que os jovens elvenses dispõem é bem maior do que na nossa altura. Como vês o desporto na nossa cidade?
LP - Não tenho duvidas nenhumas em afirmar que o parque desportivo de Elvas é dos melhores do interior de Portugal e regozijo-me por tal. De facto os complexos que foram criados possibilitam uma diversidade de modalidades que no nosso tempo não tínhamos. As próprias freguesias rurais já dispoêm também de bons complexos desportivos sabendo nós que há cidades e vilas por esse pais que não têm nada parecido. Portanto felicito o esforço que se têm vindo a fazer nesta área, e recordo-te que em 2008, por proposta minha na Assembleia Municipal, foi aprovada uma moção de louvor a "O Elvas" e "Os Elvenses" pela excelente performance competitiva e títulos alcançados em todos os escalões de formação.
Falando de apoios, a Câmara Municipal não pode ser constantemente o bombeiro salvador de todas as colectividades e clubes, pois a subsidio-dependência é uma má política para todas as direcções. A imaginação, criatividade, espírito de empreendimento são as chaves para muitos problemas que atravessam associações, colectividades e clubes. Captar a atenção de empresários através de projectos apelativos, inovadores e acima de tudo exequíveis, é o caminho a seguir. Por outro lado já é tempo de se incentivar os melhores atletas, através de prémios por revelação, mérito das suas prestações regionais, nacionais e também internacionais. Penso que esta é uma forma de estimular mais a competição entre os atletas.
TP – Voltando às tuas profissões, consideras que o nosso artesanato está a melhorar e a ganhar importância, ou necessitaria de alguma remodelação?
LP - O artesanato sempre teve a sua importância quando bem contextualizado, isto é, não faz sentido a olaria tradicional por exemplo do Redondo estar a fabricar travessas em forma de peixe feitas por máquinas, e mais grave ainda decoradas com flores típicas dos pratos. Neste sentido é preciso reequacionar métodos, estabelecer processos e definir programas, porque só assim é que se consegue manter uma identidade. Por outro lado podem-se e devem-se estabelecer pontes, comunhões entre o tradicional e o moderno, e a realização de feiras de artesanato deve obedecer a regras, normas e perfis pré-estabelecidos, senão não passam de simples feiras de actividades económicas. Neste sentido é necessário proteger o verdadeiro artífice ou artesão, e por isto estou neste momento a desenvolver um projecto de uma associação transfronteiriça de artistas plásticos. Penso que é um projecto pioneiro tendo em conta o desenvolvimento de conceitos de eurocidades, e que pode trazer bastantes benefícios para todos os artistas. A interactividade e o intercâmbio de conhecimentos é sempre uma mais valia para todos. O artesão deve apostar sobretudo no rigor e qualidade em detrimento da quantidade. Só assim se pode entrar com sucesso nesta sociedade onde cada vez mais impera a competitividade.
TP – Estando a entrevistar um candidato à autarquia, mas sem querer entrar em discussões políticas, e despindo a camisola do partido, gostaria de saber como vês actualmente a nossa cidade de uma forma global?
LP - Sinceramente essa história de mimetismo, isto é adaptar-se ao meio segundo as circunstâncias ou despir a camisola segundo as intenções, não me diz absolutamente nada. Um homem é aquilo que é e nada mais, porque o resto chama-se pedantismo, ser aquilo que realmente não é. A nossa cidade sofreu nos últimos anos muito desenvolvimento estrutural e consequentemente a qualidade de vida dos elvenses melhorou indubitavelmente. A recuperação da biblioteca, do cine-teatro e do antigo Cine São Mateus, do Estádio Municipal e Piscinas Municipais, o saneamento básico, a circular, embora lhe falte a ciclo-via o que considero imperdoável, quando se desenvolvem conceitos de sustentabilidade urbanística. No entanto e comparando com anteriores gestões, esta tem conseguido algum progresso e desenvolvimento para o concelho. Já tive oportunidade para o dizer e seria hipócrita senão o fizesse, esta é a minha forma de estar na politica, com energia positiva. Por outro lado regozijo-me por algumas propostas que tenho vindo a fazer tanto na Assembleia Municipal como no programa que apresentei, estarem a ser reformuladas e aproveitadas e felicito os responsáveis por terem essa coragem.
Elvas globalmente melhorou isso é inegável, embora ainda faltem equipamentos fundamentais como um Centro Cultural, uma praia fluvial porque temos todas as condições para desenvolver um projecto deste tipo, e o turismo necessita de uma politica estrutural e sustentável, pois medidas avulsas não se compadecem com o futuro. Penso que no entanto chegou a hora de unir, de juntar forças, para que de uma forma honesta e leal se criem condições e compromissos de reciprocidade. Para uma democracia participativa é necessário envolver mais os cidadãos, comprometê-los com a vida da cidade, pois às vezes num pequeno pormenor reside a diferença.
TP – Ninguém tem uma varinha mágica para resolver os problemas, mas na tua opinião o que se poderia fazer para debelar os problemas existentes?
LP - Implementar a Agenda 21, isto é, promover a democracia participativa nos conselhos municipais, comissão municipal para o turismo, provedor do munícipe, mais abertura, discussão e debate. Duas cabeças pensam melhor que uma e três melhor que duas. A democracia também significa assertividade e é fundamental saber conviver com a critica de uma forma positiva, sem rancor ou retaliação. Vivemos numa sociedade moderna e é fundamental que esse modernismo chegue também às mentalidades. Ser justo com as pessoas revela sobretudo capacidade de tolerância, a relação de proximidade entre o cidadão e o político estabelece mais confiança e ajuda a desvanecer o cepticismo.
TP – Pensas, como cidadão elvense, que o nosso futuro está profundamente ligado ao TGV, comboio de mercadorias e plataforma logística?
LP - Este projecto é vital para o futuro de Elvas tanto em termos de emprego como de desenvolvimento. É sem duvida uma mais-valia fundamental para a afirmação da nossa região, tal como é a candidatura das nossas fortificações a património mundial. Considero que se estes dois projectos forem uma realidade, a nossa cidade dará um passo de gigante para sair da crise. Outro projecto também importante é a construção da prisão em Vila Fernando, e com a consolidação destes projectos estão reunidas todas as condições para se captar mais investimento em empreendimentos turísticos, serviços e transportes. Sou bastante optimista e penso que se está a fazer tudo para que sejam uma realidade muito próxima.
TP – Os elvenses vão contar com o Luís Pedras, num futuro a médio e longo prazo, como político local? Há motivação para continuar ou pretendes dar o salto para voos mais altos?
LP - O Luís Pedras sabe bem aquilo que quer. Neste momento estou muito empenhado e entusiasmado com a minha actividade artística de ceramista, e provavelmente não vou estar disponível para assumir mais cargos dentro do BE. Possivelmente não me irei recandidatar para a Comissão Coordenadora Distrital, e em termos Concelhios vamos ver também como será. Quando se pretende descentralizar, regionalizar e se sente que o partido está cada vez mais urbano e assimétrico, então há algo que não funciona e as ultimas eleições disseram-me isso mesmo. O meu activismo político está intacto e de boa saúde, mas nada está decidido. Os problemas são debatidos em local próprio e em sede própria, a liberdade de cada um é também a liberdade de todos, e quando se estabelecem regras também se estabelecem direitos. Para se fazerem omoletes são necessários ovos...
Creio que o amigo Luís Pedras com esta entrevista nos deu a oportunidade de conhecer um pouco melhor quem é o líder local do BE. Foi sem dúvida uma conversa de amigos, sem tabus políticos, e desde já agradeço a pronta disponibilidade do Luís quando lhe pedi a entrevista.
Scottish
1 comentário:
Já estava com saudades de esta rubrica do Três Paixões. Boa entrevista, continue com a iniciativa.
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