Ontem foi dia de corte de cabelo no local de sempre, ou seja num dos mais emblemáticos e antigos estabelecimentos da nossa cidade, a Barbearia do Valdemar, que em Janeiro comemorou 45 anos de vida.
Naturalmente houve muita conversa, ou não estivéssemos na Barbearia... Conversa entre Pai e Filho de assuntos familiares, d'"O Elvas", do nosso Sporting e logicamente da "cidade", como habitualmente chamamos ao Centro Histórico.
Fiquei desolado com a conversa de uma pessoa que todos os dias percorre a "cidade", e que conhece profundamente a realidade actual. A frase que mais me impressionou na nossa conversa foi "Filho, a cidade está a morrer". Fiquei chocado, não porque não tivesse noção do que se está a passar, mas ouvir esta frase de uma pessoa que raramente faz este tipo de comentários impressionou-me muito. E como que aproveitando para desabafar continuou, afirmando que "se não fosse a Câmara, as Finanças e os Bancos ninguém vinha à cidade". Tem razão, pois todos conhecemos muitos Elvenses que não "põem os pés" na "cidade" há muito tempo. O divórcio entre a população que vive nos bairros e o Centro Histórico é total, e só vão à "cidade" se realmente necessitarem.
Com o Governo e as empresas públicas a retirarem serviços em Elvas, são poucos os motivos de interesse para visitar o antigo coração do burgo. Como ontem disse o meu Pai, "não se vê ninguém nas ruas, é um deserto, as lojas estão sempre vazias e depois das 7 da tarde não há uma alma à vista. No entanto saímos daqui, passamos pelos hipermercados, e os parques de estacionamento estão sempre com muitos carros". Palavras amargas de quem está há mais de 60 anos a trabalhar na "cidade", e vê como a morte anunciada se vai tornando uma triste realidade.
Dei a minha opinião ao meu progenitor sobre o assunto, e que uma das soluções para fazer ressurgir o Centro Histórico seria incentivar o turismo. A resposta foi radical, pois segundo ele "o turismo em Elvas está muito mal. As lindas igrejas que Elvas tem estão quase sempre fechadas, os Elvenses pouco sabem dos Museus, inclusivamente a Biblioteca, que eu tenho muita vontade de visitar, está fechada quando as pessoas podem ir, ou seja nos fins-de-semana".
É verdade, pois os Elvenses pouco ou nada têm visitado os monumentos, os museus, a biblioteca, ou o Forte de Santa Luzia para citar algumas coisas. "Como é possível tentar promover o turismo no Centro Histórico, se os próprios Elvenses estão afastados dele?". Esta é a pergunta que fica no ar do mais experiente desta conversa.
O desabafo continuou com a "riquíssima história de Elvas, desconhecida para a grande maioria dos Elvenses, deveria ser aproveitada para fomentar a nossa cidade". Concordo plenamente com o meu Pai, pois poderiam promover-se visitas guiadas, ou outros eventos que "puxassem" os Elvenses a visitar o Centro Histórico, para não só conhecer melhor os monumentos e museus da "cidade", como ficar a saber algo mais da história de Elvas. "São as pessoas que melhor publicidade podem fazer à "cidade", mas com o deserto que vemos actualmente, e sem ver que se faça alguma coisa para revitalizá-la, sinto que está morrer e dói-me muito na alma".
Palavras sabias de um Elvense de gema, numa conversa que não ficou por aqui...
Acabei por ir dar uma volta de carro pelo Centro Histórico, e constatei que a realidade era a que o meu Pai me tinha apresentado. Eram 19h30, e as ruas apresentavam um aspecto desolador, com poucas pessoas e que seguramente se deslocavam rapidamente para as suas casas. A sensação com que fiquei foi como se estivesse num sitio abandonado.
Fiquei muito triste, mas esta é a dura realidade da nossa "cidade"!
Scottish
Uma Paixão, uma opinião pessoal
Foto: Fotógrafos de Elvas