segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Há coisas difíceis de entender

Creio que infelizmente já estamos habituados, porque a (des)informação é mais que muita, mas que há coisas difíceis de entender não tenho a menor dúvida. Na sondagem para o Porto Canal e semanário "Nascer do Sol" (ex-Sol) feita pela empresa Eurosondagem, o PS atinge os 39,3% nas intenções de voto dos inquiridos. O estudo foi feito após as Eleições Presidenciais e em plena terceira vaga de Covid, situação que ainda mais me confunde.

O PS obtém, segundo a sondagem, quase tantos votos que a direita toda junta, o que me baralha por completo. E porquê? Simples. É que com tanta asneira feita na gestão sanitária e económica da pandemia, estes números são, para mim, muito difíceis de entender. Os comentários que vou lendo nas redes sociais, as conversas que tenho com amigos, em que de uma forma geral a crítica ao (des)Governo é unânime, então como é possível o PS obter tamanho resultado? Não faço ideia. Das duas uma. Ou as pessoas falam, criticam e depois escolhem na mesma a continuidade de António Costa, ou temos que duvidar das sondagens. Em que ficamos? Não sei, mas que me custa acreditar nestes números disso não duvidem. 

O PSD obtém 27,2% das intenções de voto, menos 12,1% que o PS, e o Chega passa a ser o terceiro partido mais votado, com 7,3%, situação que nada me surpreende face ao resultado de André Ventura nas Presidenciais. A seguir vem o BE com 6.9%, a CDU com 4,8%, a IL com 3,0% supera o CDS com 2,5%, e fecha o PAN com 2,2%. A sondagem considera que a percentagem de erro máximo é de 3,07%, com um grau de probabilidade de 95%.

Que análise se pode tirar disto, considerando que a sondagem tem algum realismo face ao cenário que vivemos em Portugal? Que não percebo os portugueses. E não acredito que estes números sejam consequência do que Marcelo Rebelo de Sousa disse sobre uma eventual crise política. Se o Presidente da República fala reiteradamente de que vai fazer de tudo para evitar problemas na governação, afastando qualquer cenário de crise, é porque entende que poderia acontecer, certo? Então como é que o PS obtém quase quase 40% das intenções de voto? Mistério...

Depois temos o facto do partido líder da oposição estar 12,1 p.p. abaixo, uma margem bastante grande para reduzir. Mais quando Rui Rio tem tido uma atitude apaziguadora na gestão da pandemia, sendo mais colaborador do que opositor, numa clara intenção de não fomentar uma crise política. Penso que esta atitude é a correta, mas para muitos demonstra uma postura frágil. Mais recentemente, a proposta de adiamento das Autárquicas por dois meses foi criticada por autarcas do próprio partido. Outra situação é o facto de não descartar um acordo com o Chega, decisão nada consensual para muitos militantes sociais-democratas. Rui Rio não está cómodo como líder do PSD, tem alguns nomes importantes dentro do partido que lhe fazem oposição, e isso só prejudica. Tem muito trabalho pela frente, com as Autárquicas como grande prova de fogo de cara às Legislativas de 2023. Penso acima de tudo que Rui Rio tem de expressar de forma ainda mais clara aos portugueses qual o projeto que pretende para o país, qual a diferença com o PS para convencer o eleitorado. Terá de ser mais oposição mas sem ser infiel aos seu princípios e ao facto de querer, e bem, evitar uma crise política pela pandemia.

António Costa está a sorrir com os números desta sondagem. Mas as sondagens não são eleições reais, e os números poderão ser diferentes... O PS é líder absoluto nas escolhas dos portugueses, segundo o estudo, mas deve saber que vai ter uma fatura pesada nas urnas de voto pelas borradas na gestão da pandemia, em especial pela decisão de "oferecer" um Natal normal aos portugueses. Volto a dizer que os principais culpados do que se passou em Janeiro são os portugueses. O povo é burro e só faz o que quer. Não aprendemos e depois temos os resultados que todos sabemos. No entanto a burrice política e sem sentido de aligeirar as medidas no Natal e Fim de Ano, levou a que tivéssemos quase tantas mortes só em Janeiro como desde Março até Dezembro. O que aconteceu? Nada, para variar. Tivemos o assumir de responsabilidades por parte do Primeiro-Ministro, mas no que resultou? Nicles, zero. Apenas ficou bem na fotografia dos jornais. 
Parece que está longe a forma como a "geringonça" conseguiu recolocar o país num rumo mais positivo. Sim, fizeram coisas boas e isso é do conhecimento e da aceitação geral. No entanto e com o afastamento dos parceiros de esquerda nos últimos tempos, o PS vai ter uma segunda parte do mandato com problemas que não sei se serão prejudiciais de cara às Legislativas. Há que planear e não reagir com decisões em cima do joelho, e isso tem levado ao virar de costas da CDU e do BE.

Sobre o Chega falarei daqui a uns tempos, assim como da profunda crise do CDS sem fim à vista.

Os eleitores devem pensar que a cruz que vão marcar no boletim de voto nas próximas Legislativas, não é só porque pensam que a escolha é o melhor projeto para o país. Devem pensar que a política mudou e que dificilmente algum partido irá conseguir uma maioria absoluta, e por isso há que pensar nos eventuais acordos a seguir as eleições. Essas escolhas, esses acordos são os que nos governarão e isso deve ser pensado antecipadamente pelos eleitores. Se os militantes votam de forma convicta nos seus partidos, os que não têm qualquer ligação partidária devem alargar a sua forma de pensar e não votar apenas no "melhor projeto", mas também no eventual "melhor acordo" para o país.

Como digo, há coisas difíceis de entender, e a política com tantos tentáculos que absorvem tudo e todos, em que o importante é ganhar seja a que preço for, torna o nosso presente muito complicado e faz com que o futuro seja incerto, para não dizer negro...

Scottish
Uma paixão, uma opinião pessoal

Sondagem: Nascer do Sol
Foto: Expresso

Sem comentários: