sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Refinaria na provincia de Badajoz

Muito se tem falado que as regiões do Alentejo e Extremadura se devem unir, para parcerias que permitam o desenvolvimento de duas das zonas mais pobres da Europa.
No caso de Elvas temos falado muito da crise, da elevada taxa de desemprego, do que se pode fazer para tornar a nossa cidade mais interessante, de forma a atrair projectos que nos permitam sair deste marasmo.
Alguns podem vir a caminho, outros talvez não, mas considero importante o debate de ideias como forma de se sentir Elvas.

O post de hoje está indirectamente relacionado com a terrinha. Trata-se da Refinaria Balboa, iniciativa do Grupo Alfonso Gallardo, e será o maior projecto industrial da história da vizinha Extremadura. Conta com associados de peso, como os Bancos BBVA, Caja Madrid e Caja Extremadura, o Grupo Iberdrola e a Sociedad de Fomento Industrial de Extremadura.
Será a décima refinaria de petróleo em Espanha e ficará localizada em Los Santos de Maimona, a 74 km de Badajoz.
Segundo a empresa, a refinaria irá utilizar equipamentos e processos de última geração, com rendimentos muito superiores às refinarias que existem. Além disso, queimará unicamente combustíveis gasosos e não irá gerar produção residual.
Vai ter capacidade para produzir mais de cinco milhões de toneladas de produtos petrolíferos, metade deles gasóleos. A Refinaria Balboa colaborará com o Estado espanhol em diminuir o deficit nacional por conta corrente, ao reduzirem-se as importações do exterior.
Para poder trabalhar, necessitará de um óleoducto para o fornecimento de crude desde o Porto de Huelva, com uma extensão de 200 kms.

Claro está que todo este projecto está a ser objecto de enormes protestos, desde que em finais de 2004 o Presidente da Junta da Extremadura anunciou a intenção de construir uma refinaria. A Plataforma Ciudadana Refineria No (ver site) é o seu maior expoente, organizando um número considerável de manifestações contra a refinaria. A PCRN está convicta que este projecto destruirá o tecido industrial e económico de toda uma região dedicada fundamentalmente ao sector agrícola e pecuário.

Do lado português as organizações ecologistas opõem-se à instalação da refinaria, segundo um documento entregue à Agência Portuguesa do Ambiente (APA). O documento subscrito por representantes da Quercus, FAPAS - Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens, GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente e LPN - Liga para a Protecção da Natureza, revela o parecer contrário ao projecto, pois consideram que há claros impactes que afectam a manutenção de um caudal ecológico no Rio Guadiana, e que por sua vez também afecta o Alqueva.
Segundo os ecologistas, já existem problemas no caudal do rio, que seriam aumentados com a grande necessidade de água para o funcionamento da refinaria.

Em Abril de 2006 teve início o procedimento de avaliação de impacte ambiental. Em Dezembro desse ano o Ministério do Ambiente Espanhol estabelecia o nível de detalhe necessário do estudo, que seria depois entregue em Janeiro de 2008 às autoridades portuguesas. A APA fez uma consulta pública com bastante controvérsia por parte das Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA). Estas alegam que só foram informadas no final do prazo estipulado. Mesmo assim a APA elaborou um conjunto de considerações enviadas ao Ministério do Ambiente Espanhol que, em Julho de 2008, solicitou ao promotor uma avaliação do impacte transfronteiriço do projecto. A APA considerou insuficiente o conjunto de elementos fornecidos e pediu maiores esclarecimentos, novamente solicitados em Outubro de 2008. Em Dezembro o promotor elaborou um documento de resposta às questões colocadas pela APA, entregue através do Ministério do Ambiente Espanhol, juntamente com o Estudo do Impacte Ambiental (clique para ver o estudo), e cuja consulta pública terminou dia 24 de Fevereiro.

Como se pode ver a "guerra" entre a refinaria, ecologistas e cidadãos independentes está servida.
Este Humilde Observador considera que a refinaria será prejudicial para a nossa zona, pois Elvas irá ser envolvida neste problema, caso a refinaria seja construída. Não estamos longe de Los Santos de Maimona e a poluição que uma empresa destas irá trazer pode ter consequências catastróficas. Sei que um investimento deste tamanho irá trazer benefícios económicos à Extremadura e Alentejo, mas será que vale mesmo a pena?
Temo que mais uma vez os enormes interesses económicos dos grupos associados ao projecto, vençam em detrimento da qualidade de vida que deixaremos de ter. Diga a empresa que será uma refinaria moderna, sem detritos ecológicos, mas de certeza que não voltaremos a ver o Guadiana, e não só, como até aqui.

Bom fim-de-semana!

(fontes Quercus, soitu, grupoag, PCRN)

Uma Paixão, uma opinião pessoal!

5 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Scotish,
O progresso tem sempre destas coisas e apresenta sempre uma face menos amável.
Desde que haja responsabilidade social e ambiental tudo é possível, desde que a relação custo-benefício seja proveitosa. Veja-se como exemplo a cidade de Sines, se não fosse a refinaria ter-se-ia desenvolvido como até aqui? A cidade perdeu qualidade de vida, é certo, mas ganhou nível de vida, que são coisas diferentes. Deve-se reflectir sobre o que é preferível.
Quanto a mim prefiro o progresso, mas não a qualquer preço e desde que feito com pés e cabeça.

Afonso da Maia disse...

Concordo consigo AP. Não vejo porque não seria possível conciliar o desenvolvimento com a quelidade ambiental, só tem que ser implementado um projecto sustentável.
Como bem refere o caso de Sines, onde até boas praias existem nas proximidades.

Scottish disse...

AP já me conheces e sabes que sou a favor do progresso.
Sobre o caso de Sines, sei que se não fosse a refinaria nunca teria evoluido. O meu receio é que se façam as coisas a pensar nos lucros empresariais e o bem-estar da população seja esquecido.
Sempre que a preocupação ambiental seja uma das principais prioridades da empresa, sou a favor da sua construção, mas tenho visto tanta coisa...

Afonso da Maia agradeço o comentário e penso que respondi ao seu pensamento.
Abraço

Anónimo disse...

Para sermos a favor ou contra a Refinaria é necessário conhecer a situação. Alguns pseudo-intelectuais que existem por esta zona como se julgam amigos do ambiente estão logo contra mesmo não percebendo nada do assunto. É chique proteger o ambiente, mas de verde no cérebro não têm nada e se fôr necessário nem utilizam o ecoponto.
Ora o projecto cumpre todas as normas espanholas e europeias de protecção do ambiente e a própria União Europeia já deu parecer favorável ao projecto. Isto aliado aos milhares de postos de trabalhos não nos deixa margem de dúvida quando se diz sim à refinaria!
Quanto a Sines a refinaria não cumpria regra nenhuma porque para o regime de então nem havia regras e se os habitantes de Sines ou do Barreiro (com os químicos da CUF) morressem de cancro abafava-se o assunto e estava resolvido! Hoje a refinaria GALP de Sines já cumpre as normas europeias e fez de Sines a cidade que hoje é.
Esse desenvolvimento (Refinaria, TGV, Plataforma Logística) é hoje exigido pelas populações de Elvas e Badajoz mas mesmo assim há nulos mentais que estão contra!

Scottish disse...

Caro Manuel Fernandes!
Não estou contra o projecto, pois considero que o mesmo tem uma envergadura muito importante para a nossa região.
Sou sem dúvida a favor da preservação do meio ambiente, e isso preocupa-me, pois como bem referiu, Sines sofreu muito com a refinaria. Hoje em dia não é assim, e ainda bem! Quero que este projecto avance, sempre e quando o nosso meio ambiente não seja alterado, pois considero que no nosso cantinho temos qualidade de vida! Focou o Barreiro. Têm melhor qualidade de vida que nós? Não me parece...
Ah! Eu sou dos que utiliza o ecoponto!
Abraço