quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Luís Pedras, a pessoa (1ªparte)

Luís Pedras é o líder da concelhia do Bloco de Esquerda na nossa cidade. Foi candidato pelo seu partido nas últimas eleições autárquicas, tendo sido a terceira força política mais votada. Tem 44 anos, é casado, pai de 2 filhos, e conheci-o quando trabalhámos num Despachante Oficial, no tempo em que ainda havia fronteiras na UE. Agora é artesão e formador de artesanato, e desde 1995 está na política.
Não conseguiu entrar na Câmara como vereador e só na Assembleia Municipal o BE registou um mandato, no caso, o Alcides Silva.

O Três Paixões vai dar a conhecer a pessoa, e desde já agradeço a amabilidade desta entrevista ao Luís Pedras. Será publicada em duas partes, e nesta primeira falamos de como surgiu a política no seu caminho, de como a família o apoia, ou do passado e presente profissional tendo como base a olaria. A não perder!

Três Paixões – Quando sentiste que a política te atraía?
Luís Pedras - Desde muito cedo que me interesso pela política. Quando era aluno do 10º ano na Secundária já estava ligado à JS. Fui apoiante da primeira candidatura de Mário Soares à presidência, e o socialismo democrático sempre norteou a minha consciência política. Considero que os pilares de uma sociedade moderna assentam num estado verdadeiramente social, onde todos sem excepção tenham igualdade de oportunidades, direito a uma habitação digna, direitos iguais à educação, saúde, trabalho e justiça, no fundo é a essência da nossa Constituição.
A política é um dos status da nossa natureza, pois o homem é um animal político, mas a política surge em mim como uma necessidade cívica. Denunciar, alertar para os atropelos constantes desta sociedade assimétrica, é na verdade a condição "si ne qua non" da minha vivência. A arte também me revelou a necessidade desta atitude, a pintura de Goya "Os Fuzilamentos" ou o quadro "Guernica" de Picasso ilustram perfeitamente esta coexistência ou dualidade arte/política.


TP – Identificavas-te na altura com os ideais políticos dos partidos que existiam, ou só decidiste avançar quando surge o BE?
LP - Como referi anteriormente os meus ideais são socialistas, um socialismo moderno e democrático que enfrenta as preocupações e problemas sociais com determinação e frontalidade. Não vale a pena andar a esconder os tabus, eles existem, fazem parte de nós, desta sociedade, e por mais fracturantes que sejam têm que ser enfrentados e resolvidos, como por exemplo o aborto ou o casamento/união de facto de cidadãos do mesmo sexo. A nossa sociedade não pode perder o comboio da evolução, o conservadorismo só serve para ocultar verdades, a dialéctica existencial sobrepõe-se a qualquer ideal político. Sempre foi esta a minha visão politica, desde os tempos da JS, passando por uma candidatura como independente à Junta de Freguesia de Caia e São Pedro, apoiada pela CDU de João Vintém. Portanto ainda não existia o BE, somente em 2004 comecei a actividade politica com o BE, e em 2005 tornei-me militante e criou-se a CCD. Desde então faço parte da comissão eleita, fui eleito deputado municipal de 2005 a 2009 sendo o melhor resultado do BE em todo o Alentejo.

TP – Qual foi a opinião da tua família quando avançaste para a política?
LP - A posição da minha família sempre foi bastante assertiva, respeitou sempre esta decisão, no entanto como todas as famílias não gosta de ver o seu tempo, o tempo da família que considero extremamente importante e fundamental para estabelecer uma boa relação, ser "usurpado", retirado. Quando se está em campanhas eleitorais sofremos um desgaste físico e mental verdadeiramente avassalador, e é perfeitamente lógico e compreensível que os níveis de preocupação subam bastante por todos aqueles que nos amam e gostam de nós.

TP – Mudando de assunto. Trabalhas-te comigo num Despachante Oficial, mas quando esse capítulo da nossa vida encerrou, por onde estiveste?
LP - Como sabes ainda estive cerca de 9/10 anos nessa actividade. Depois da data fatídica de 01/01/1993, o mercado único, a abertura das fronteiras foi realmente uma machadada enorme na economia local e no emprego. Não foi fácil de repente ficar desempregado, mas não desarmei, não deitei a toalha ao chão. Sempre fui um amante das artes e assumi essa condição de artífice e artista. Muitas vezes digo que há males que vêem por bem e assim aconteceu, pois abracei esta arte, este ofício com determinação e muita responsabilidade. Fiz a minha formação com bons mestres oleiros tradicionais e mestres estrangeiros de renome internacional como o mestre Kimura, ou o grande mestre espanhol Arcádio Blasco. Realmente consegui absorver toda a essência desta arte ancestral através dos conhecimentos, do ensinamento ao longo de cerca de 16 anos com estes mestres e a experiência e reconhecimento através de prémios regionais, nacionais, e internacionais, feiras e exposições individuais e colectivas.
Penso que somente com empenho, dedicação, prazer e satisfação, rigor e qualidade, é que podemos enfrentar esta sociedade cada vez mais competitiva e exigente. A olaria, a comunhão dos quatro elementos da formação do mundo, a terra (barro), o ar (O2), a água e o fogo, o domínio do fogo, deu-me outra visão da arte.
A actividade como formador também ocupou parte destes anos, pois ministrei diversos cursos de formação profissional, worshops e formação durante 10 anos no Centro Educativo de Vila Fernando. Considero mesmo que este foi o maior desafio pedagógico que tive e ao mesmo tempo uma experiência muito enriquecedora. Sou formador desde 1995 e sempre na área obviamente da cerâmica, concretamente azulejaria, decoração cerâmica, modelação, RAKU e ÁGATA, e roda tradicional.


TP – A olaria é uma virtude, uma paixão, ou foi a possibilidade de seguir em frente?
LP - Como sabes a poesia filosófica, a arqueologia, a antropologia e a paleontologia foram sempre áreas ou ciências que me despertaram interesse e curiosidade. A necessidade de compreender bem o nosso passado para poder explicar melhor o presente sempre me fascinou, e a olaria estabelece essa ponte entre o passado e o presente através do domínio do fogo, técnicas de modelação, preparação de pastas e a própria cromática (os óxidos). É esta versatilidade e potencialidade que nos oferece a cerâmica, que me seduziu inexoravelmente.
Depois desenvolver projectos como o "Fénix-renascer da ronca de Elvas" e verificar que se estão a revitalizar, a recuperar tradições, no fundo alimentar a raíz da nossa identidade cultural, mergulhar nessa memória colectiva e emergir com uma lufada de ar fresco. Dá-me muito prazer e satisfação, porque sinto que estou a contribuir positivamente para que a nossa essência cultural não se desvaneça.


TP – Tens muitos alunos? Quais as idades?
LP - Todos sabemos as idades dos formandos que tinha no Centro Educativo de Vila Fernando, enquanto na formação profissional já aparecem alunos de praticamente todas as faixas etárias desde que sejam adultos. Por exemplo, o workshop na ESE de Porlalegre eram os futuros professores de EVT, enquanto que na Escola Básica 2,3 nº2 da Boa-fé eram alunos e pais em interactividade sobre as roncas.

Não perca amanhã a segunda parte da entrevista a Luís Pedras.

1 comentário:

Toca a Todos disse...

Topem lá esta conversa de ontem do sô Carvalho com o dotor Mocinha.

- Tão Mocinha tás a ver que o gajo não te larga nos blogues? E pior do que tudo é que o gajo sabe do que a gente fala e tu já dessestes á gajada toda que te mudas para o buraco do ultimo andar e não á meio de andares com isso.

- Manel eu não posso sair daqui porque se vou pró ultimo andar ninguém dá por mim e aí é que perco o lugar de futuro regedor de uma vez por todas.

- Mas o que havemos nós de fazer, Mocinha?

- Nada que eu tenho um medo deles que me cago todo. Vou ficar quietinho e não respondo, pode ser que me largem as canelas e haverei de chegar a regedor porque o Rondão vai-me lá meter nem que eu tenha que chorar baba e ranhola ao pé dele. Não preciso fazer nada que tou habituado a ser levado ao colinho por todos, já foi assim quando tive nos Bombeiros e na Acise e na Comissão dos Melhoramentos.

- Mas isso é não prestar para nada. E eu tou a apoiar um gajo que não presta para nada?

- Pois já toda a malta sabe que eu não presto para nada que sou um bluff, mas tu tens que me apoiar porque já sabes que mandas em mim e que eu sou tão burro que ouço o que tu dizes, e que comigo tens o taxo garantido.

- Tá bem mas custa-me muito violar os meus principios, mas como o guito no fim do mês é bom, tá bem.

- Assim é que se fala Manel. Tu mandas e eu obedeço-te. E não te esqueças de responder aso gajos dos blogues em vez de mim.